Colunista Moacir Saraiva: “Até amor da mãe murcha”

Foto: reprodução

                Há quem diga que tudo na vida passa, tudo na vida tem fim, exceto o amor de mãe, mas parece que não é bem assim, pois o amor venha de quem vier tem de ser alimentado, apesar da gratuidade do amor materno, entretanto há situações que, por inanição desse amor, ele não desaparece, mas murcha, fica hibernando esperando um sol de alento a fim de ele brotar novamente. Não que esse amor queira recompensa ou compreensão, mas, pelo menos, não seja desmoronado todos os dias e a todos os momentos. Com maltrato diário com a pessoa, a quem dizemos amar, não há sentimento afetuoso, mesmo o de mãe, que não degringole.

         Uma senhora tem duas filhas, as três moram em uma periferia de uma cidade mediana, a mãe, na verdade, é “pãe”, uma vez que o pai das meninas a abandonou logo que as duas vieram ao mundo, apenas um ano é a diferença da idade delas. A mãe, uma diarista, sustentou essas crianças sozinhas, na esperança de que, quando chegassem a maior idade, lhes dessem menos trabalho e menos despesas, já que iriam para a labuta a fim de ganharem dinheiro e colaborarem no sustento da casa, pois ela, sozinha, fez isso por anos e anos.  

         As duas cresceram e a mais velha, aos 17 anos embarrigou, um embarrigamento solo, o sujeito fez o filho e não assumiu nem a criança nem a jovem mãe, assim sendo, a mãe da moça, já com parcos recursos, teve de se virar a fim de sustentar a filha com seu rebento e a outra filha que também aprontava, esse foi um dos grandes desgostos da mãe das meninas.

         As crias aprontavam muito e não davam nenhuma satisfação à mãe, não a ajudavam nos afazeres domésticos, tampouco nas despesas, mesmo já trabalhando em pequenos afazeres, mas o que arrecadavam era tão somente para o cuidado da própria beleza e custear farras nos fins de semana.

         Tinha uma “amortização” desse descaso com a mãe, quando chegava o dia das mães, dia do aniversário dela e Natal, as meninas lhes davam presentes e tiravam fotos a fim de postarem no celular, fotos com o sorriso aberto e abraçada com a mãe, esta ficava sisuda, muito sisuda, mesmo com os apelos das filhas para abrir um sorriso. Nas redes sociais, postavam a foto com um palavreado bonito de elogio à genitora.

         Ano, após ano, o ano inteiro de descaso com a mãe, muitos finais de semana as meninas saiam e deixavam o pequeno sob os cuidados da cansada senhora, isso foi desgastando o afeto da mãe pelas filhas, pois só nos eventos festivos elas amoleciam o coração e demonstravam um “amor” exagerado. Isso fez com que a mãe visse nessas datas tristeza e, até se esquivava de qualquer encontro festivo, mesmo com os demais parentes dela. Não ia na casa de ninguém e não atendia o celular.

         Neste ano, o caldo engrossou, em uma dessas datas festivas para as meninas: dia das mães, a velha se encheu de tanta falsidade vinda de suas filhas, que no dia dedicado a ela, as meninas chegaram alegres e com flores e presentes, a mais velha se adiantou e disse:

         – Mainha, gostamos tanto de você e eis aqui uma lembrança nesse dia tão especial.

         A mãe estava na cozinha, dali não saiu e permaneceu sisuda e muito sisuda, com o rosto carregado de raiva. Olhou para as meninas e falou:

         – Suas ordinárias, vocês passam o ano me maltratando, dentro de casa não lavam uma xícara. É assim que vocês gostam de mim?

         As meninas ficaram sem entender. E a mãe continuou:

         – Guardem seus presentes para vocês mesmas.

         Deu as costas e continuou sua labuta na cozinha.

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